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amor e o amor



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O amor é uma coisa linda


 Beijo O amor Beijo

 

 

 

 

 

Do amor se dirá que nunca o suficiente será dito. E sê-lo-á porventura suficiente alguma vez, ou viverá tão só do próprio e fugaz tempo da conjugação, momento intemporal que deixa de aceder ao tempo?

Do amor se dirá pouco, dirá muito, estranho paradoxo em que "um saber só de experiência feito" vai afinal de par com a ingenuidade mais total, facto que igualiza perante a relação amorosa e é talvez condição absoluta da possibilidade de amar. O falar do amor é , em sua essência, criativo, quando não tenha o empobrecimento do banal, embotando-se na reprodução estéril de discursos alheios. O discurso do amor exige, por parte do seu comunicante, uma reinvenção do amor, reinvenção reformulada pelo outro, aquele a quem o discurso se dirige, num processo criador de renovação contínua, até ao infinito... Enquanto este redimensionamento puder ser inventado, elaborado, como disse Vinicios: "que não seja imortal posto que é chama / mas que seja infinito enquanto dure".

Abarca assim o amor uma dimensão tão larga que da sua experiência permanece a ilusão da universalidade, pese embora a particularização, aquilo que de facto o confina ao real. De tal forma que o "ter amado" se aparenta em essência, tal um pouco como, em ilusão passional dois seres se confundem. "Sou eu que aspiro a perder-me em ti? Ou és tu que eu quero dissolver no meu desejo?" Poderão ser talvez as intervenções do amador, e assim se consome de novo a experiência ancestral e de novo "transforma-se o amador na coisa amada".

O poder do amor é pois uma outra forma de discurso, mais tributária de outros espaços que puramente os do intelecto. A possibilidade de amar é apanágio daquele que por ter já sido por sua vez amado, por isso mesmo se ama.

O desenho de um gesto, a recordação de um cheiro, o traço invisível de uma presença adivinhada, tudo em que o amador pressente também a coisa amada, tal recordação muito sensorial da infância, orienta secreta e subterraneamente a escolha no presente.

A possibilidade de relação amorosa entronca as suas raízes numa matriz mais antiga, no amor primeiramente vivido entre bebé e mãe, a que a experiência posterior da triangulação simultaneamente dá corpo e estrutura.

Subsistindo ao encontro amoroso um quantum de afecto onde perpassa um reencontro com esse primeiro objecto. Subsistindo uma parcela de idealização que, a ser futura, terá de ser real. Conduzindo também à aceitação do outro na sua alteridade, inexpugnável: a da verdade de que o amor não se esgota no amor de si próprio mas antes nele se alicerça.

Nas palavras de José Saramago:


"A ti regresso, mar, ao gosto forte

Do sal que o vento trás à minha boca

À tua claridade a esta sorte

Que me foi dada de esquecer e

Sobretudo embora como a vida é

A ti regresso, mar, corpo deitado

Ao teu poder de paz e tempestade

Ao teu clamor de Deus acorrentado

De terra feminina rodeado

Prisioneiro da própria liberdade."

Sentimento de completude onde o amador se reencontra num estado de graça já antes vivido (se vivido). Lugar privilegiado para o objecto interno. Espaço em que a projecção se consubstancia, em que o afecto toma o seu lugar de direito próprio, conduzindo pela presença transparente da infância: tal é o amor. Como um depósito a guardar, depositando o amador no ser amado uma parte de si que a outro, que não a si próprio confia.